Polícia apura se intolerância religiosa causou demissão em prefeitura no RJ

O que seria mais um dia de trabalho para Patric Douglas Anjo Soares Ferreira, de 25 anos, virou caso de polícia. O jovem diz ter sido vítima de intolerância religiosa ao ser dispensado da Secretaria de Transportes de Mesquita, na Baixada Fluminense, após ter ido vestido de branco e com adereços religiosos no dia 25 de abril.

“Quando cheguei já me olharam de cara feia (...) Umas 9h, chegou o nosso encarregado, olhou para todo mundo e me falou: ‘O Cléber [Rezende da Silva, secretário de Transportes] falou que você não trabalha mais aqui’”, conta Patric, contratado em março para a função de apoio operacional.

O rapaz também alegou ter ficado constrangido com o comunicado de dispensa ter sido feito na frente de outros funcionários.

“Ele podia ter me chamado numa salinha e não ter dito isso na frente de todo mundo, sem nenhuma outra explicação. Fiquei uns 20 minutos parado tentando entender o que aconteceu. Fiquei muito triste com tudo aquilo. Só porque estou de branco e com umas guias para dentro da blusa não vou poder trabalhar?”, questionou.

Prefeitura nega exposição
Segundo a prefeitura, o que motivou a demissão do funcionário foi um histórico de faltas e abandono de trabalho registrados nos dias 7, 12, 18, 19 e 20 de abril. Patrick admite ter faltado quatro dias, dois deles devido a problema de saúde na família.

Patric e a mãe de santo Dofona de Omulu onde rapaz está recolhido para a realizações de ritual (Foto: Janaína Carvalho / G1)

“Sobre as questões relacionadas ao ex-funcionário Patric Douglas Anjo Soares Ferreira, a Prefeitura de Mesquita, por meio da Secretaria de Transporte, Trânsito e Ordem Pública, informa que, no dia 25 de abril, o mesmo foi instruído a não dar início a sua rotina de trabalho e aguardar para conversar com o secretário. Patric, contudo, não quis esperar e deixou o local de trabalho. A prefeitura informa ainda que o comunicado de demissão não foi feito na frente de outros funcionários”, disse a prefeitura, por meio de nota.

Investigação
O caso foi registrado na 53ª DP (Belford Roxo) como “Injúria por preconceito”, mas o artigo citado foi o 147 do Código Penal, que se refere a ameaça. No entanto, segundo a Polícia Civil, o autor do registro pode ir à delegacia solicitar a correção do documento, o que não causa nenhum dano à investigação.

De acordo com o delegado Matheus Romanelli, logo após o registro da ocorrência o delegado elenca as diligências necessárias para esclarecer os fatos e pode, nesse momento, realizar a correção. A pena por injúria vai de um a três anos de prisão.

“Outro fator importante é que as diligências são determinadas de acordo com os fatos narrados. No caso em questão, as investigações estão em andamento na unidade”, informou, por nota, a Polícia Civil.

A mãe de santo Arilza dos Santos Rosa, de 54 anos, mais conhecida como Mãe Dofona de Omulu, diz que algumas regras chegaram a ser contornadas dentro da crença religiosa para que o jovem não precisasse faltar ao trabalho.

“Quebrei as minhas regras em relação ao orixá, retirando alguns aparamentos dele para ele poder trabalhar. Conseguiu esse serviço e estava muito feliz ajudando a mãe e, ao se iniciar no candomblé, aconteceu isso aí. Ao chegar de branco no serviço ele foi dispensado na frente de todo mundo”, lamenta Arilza, ressaltando que o rapaz é o filho mais velho e precisa ajudar a mãe financeiramente.

Ainda segundo seguidores de religiões de matrizes africanas, o desrespeito com os seguidores do candomblé é frequente.

“Não há uma organização por parte do poder público para discutir essa questão de intolerância e políticas públicas. Um empregador tem o direito de dispensar o empregado, mas com o devido respeito e não baseado na intolerância”, disse Claudenilson dos Santos Rosa, conhecido no meio espiritual como Ogan Makalé.

FONTE: Portal G1 em 06/05/2016

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