Crivella pede desculpas por possíveis ofensas em livro

Em nota enviada ao GLOBO a respeito do livro “Evangelizando a África”, Marcelo Crivella disse amar “os católicos, espíritas, evangélicos e a todos” e pediu perdão caso os tenha ofendido “alguma vez”. Crivella afirmou que o pedido também vale “em relação à homossexualidade”. No texto, o senador diz que o livro foi escrito “há décadas” quando ele vivia na África, “num ambiente de guerras, superstição e feitiçaria”.

Ele classificou as referências ao catolicismo de “equivocadas e extremistas feitas por um jovem missionário, cujo zelo imaturo da fé, levou a cometer esse lamentável erro.”

O pedido de perdão ocorre 17 anos depois do lançamento da edição do livro em inglês, em 1999. Na época, Crivella tinha 42 anos. “Evangelizando a África” foi publicado em português em 2002. Na nota, o candidato a prefeito pelo PRB afirma que no Senado tem sido, há 15 anos, um “intransigente defensor da tolerância, da liberdade, da dignidade da pessoa humana”.

Durante a campanha, Crivella tem procurado desfazer a imagem de intolerância em relação a homossexuais e a religiões de matriz africana.

Além de ter se reunido com representantes de religiões e de movimentos LGBT, assinou a “Carta-compromisso com os direitos humanos contra a violência, o racismo e a intolerância religiosa”, redigida pela Comissão de Combate à Intolerância Religiosa.

O candidato se deixou fotografar com umbandistas e declarou apoiar a união civil de homossexuais. Ressalvou, porém, que, no casamento religioso, a “família deve ser mantida como ela é”.

PUBLICAÇÃO DEMONSTRA ‘RACISMO CULTURAL’, AFIRMA PESQUISADOR

Professor de Filosofia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e pesquisador do Laboratório de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas da mesma instituição, Renato Noguera diz que o livro de Crivella “demonstra nitidamente o racismo cultural.”

Segundo ele, o texto reforça a ideia de que apenas alguns povos têm “o direito de produzir uma cultura legítima”:

— O livro contribui para a reprodução de estigmas, preconceitos e estereótipos, é um elemento da cultura de conversão forçada, missionária e perigosa.

Para o pesquisador, um dos “efeitos colaterais” da publicação pode ser a violência, já que o livro “cria condições e possibilidades para uma intervenção mais agressiva”:

— O racismo anti-negro traz consequências terríveis, como a prática de analisar fora de contexto alguns rituais específicos de cada povo — completa. O pesquisador ressalta desconhecer qualquer religião africana que pratique sacrifício de crianças.

Para Noguera, “Evangelizando a África” mistura conceitos, tradições e práticas religiosas de diferentes regiões.

— Não se pode considerar homogêneo um continente que reúne 55 países e mais de 800 povos —frisa.

Ele ressalta que o conteúdo do livro não condiz com elementos do próprio cristianismo, “que não demonstra xenofobia”. O pesquisador cita que a tradição cristã africana é tão antiga quanto a europeia.

Procurado, o arcebispo do Rio, D. Orani João Tempesta, afirmou por sua assessoria, que a “agenda cheia” impossibilitaria qualquer comentário sobre o livro de Crivella.

FONTE: Jornal Extra em 16/10/2016

Nenhum comentário

Tecnologia do Blogger.