Redação do Enem traz ‘boa abertura’, diz mãe de santo de terreiro queimado

A escolha de cobrar uma redação sobre intolerância religiosa no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é uma “boa abertura para discussões” envolvendo o assunto, afirma a mãe de santo Adna Santos, responsável pelo terreiro de candomblé do Distrito Federal que foi destruído por um incêndio em novembro de 2015. A situação motivou o governo a criar uma delegacia especial para investigar crimes de intolerância religiosa. O terreiro foi reaberto no mês passado.

“Eu acho uma boa abertura para que de fato essas discussões sejam avançadas. Precisamos disso. Quando se tem hoje uma prova dessas com esse tema, ele termina abrangendo todas as pessoas que participam. É uma boa oportunidade para que comecem de fato a pensar nisso e levar adiante. Está na hora de acabar com a intolerância. Precisamos nos repeitar”, diz Adna, conhecida como Mãe Baiana.

Na opinião dela, o conteúdo das redações vai permitir retratar a opinião do país sobre o assunto. “Com uma prova dessa, que todo o Brasil está fazendo e tem que responder, o governo vai conseguir ver também o pensamento de cada um”, declara. “Quando você responde a uma questão sobre esse tema, no fundo você está dizendo quem é. Se você é intolerante ou não.”

O tema da redação é “Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil”. Ele foi divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) no início da tarde deste domingo (6). Professoras ouvidas pelo G1 afirmam que o tema provavelmente foi trabalhado nas aulas e, portanto, não chega a ser uma surpresa.

Reconstrução
Foram gastos cerca de R$ 80 mil na reforma terreiro de candomblé Ylê Axé Oyá Bagan no Paranoá– parte veio de doações. O espaço funciona desde 2002. Ele foi incendiado em 27 de novembro do ano passado, durante a madrugada.

No galpão do local foram encontrados, entre as cinzas, tecidos instrumentos musicais, madeira, atabaques e outros materiais inflamáveis. Mesmo motivando a criação da delegacia responsável para investigar crimes de intolerância religiosa, um laudo da polícia aponta que o terreiro foi queimado acidentalmente.

“Levantamos tudo de novo, erguemos do chão. A estrutura era de madeirite, agora é de tijolo. Está maior, mais espaçoso e tem mais visibilidade”, disse Adna. Segundo ela, o incêndio trouxe grande prejuízo material. “Tínhamos um terreiro onde não precisava de mais nada porque estava todo montado. Hoje não temos prato, talher, copo. Por enquanto, vai ser tudo com prato descartável”, lamentou.

“Nós perdemos muito também no que diz respeito ao patrimônio imaterial, em relação aos nossos hábitos. Ficou tudo parado. Não podíamos fazer nada porque não tinha onde fazer. Isso prejudicou as pessoas que nos procuram todo fim de semana, quem diuturnamente vai à procura de um procedimento”, continuou.

A mãe de santo disse esperar que o governo passe a reconhecer a importância da religião. “A gente quer pedir o dia do candomblé em Brasília, assim como dia 30 de novembro é o dia do evangélico e dia 15 é o dia da umbanda”, declarou Adna.

Laudo
Segundo a polícia, as investigações apontam que o barracão onde os materiais do terreiro eram guardados era feito de placas de madeira, o que favoreceu o incêndio. Segundo o delegado-chefe da 6ª DP, Marcelo Portela, o laudo foi suficiente para concluir a investigação.

“As conclusões do laudo do Corpo de Bombeiros determinam que as condições da instalação elétrica do local são precárias. Tudo isso favoreceu a ocorrência de um curto-circuito no galpão, onde havia objetos que favoreceram a propagação do incêndio, como fiação precária e exposta. No dia houve uma chuva fina, que pode ter contribuído para esse curto-circuito.”

O delegado afirma que a polícia ouviu testemunhas que disseram não haver nenhum tipo de “contenda” que pudesse ter motivado um incêndio criminoso. O Ilê Axé Oyá Bagan fica em uma região rural entre o Lago Norte e o Paranoá.

Entre maio e novembro do ano passado, 13 terreiros de candomblé do DF foram incendiados. Denúncias sobre atos de intolerância religiosa, racismo, xenofobia e outros tipos de discriminação podem ser encaminhadas à ouvidoria do Ministério Público, pelos números 127 ou 0800-644-9500, ao Disque 100 ou ao Disque Racismo, no 156, opção 7.

FONTE: CO News em 06/11/2016

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