Intolerância religiosa em debate

Encontro em São Bernardo discute os desafios para se criar uma cultura de paz, onde o respeito prevaleça 

O sincretismo, que combina princípios de diversas doutrinas religiosas, está enraizado na cultura brasileira. E mesmo sendo um Estado laico, ou seja, que não possui uma religião que o controla, o Brasil ainda luta contra o preconceito e a intolerância religiosa. Nesta sexta-feira (27/01), às 19h, a Prefeitura de São Bernardo irá realizar no Centro de Referência ao Idoso um debate com sociólogos e estudiosos das religiões acerca do tema.
A ideia é que lideranças religiosas e a população se reúnam para discutir os desafios para criar uma cultura de paz, onde o respeito prevaleça no convívio entre as religiões. O mês para esse debate é oportuno, já que na última sexta-feira (21/01) foi celebrado o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa.
A data foi criada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula Silva em 2007, e homenageia Gildásia dos Santos (Mãe Gilda). A praticante do candomblé morreu aos 64 anos, em 21 de janeiro de 2000, vítima de uma crise de hipertensão, após ver a sua imagem exposta em um jornal de uma denominação religiosa que a acusava de charlatanismo.
Perseguidos - No mês dos debates sobre a intolerância religiosa, a reportagem do ABCD MAIOR conversou com pessoas que fazem parte dos grupos mais perseguidos pelo preconceito religioso, de acordo com a mestre em estudos da religião Lucilia Laura, que são os seguidores das religiões afro-brasileiras (umbanda e o candomblé) e os ateus.
De acordo com Lucilia, a laicidade do Estado é o ponto que inicia qualquer debate sobre as religiões no Brasil. “É importante que a sociedade se abra para ouvir os mais diversos segmentos religiosos, e não apenas os majoritários, que são os católicos e os evangélicos, e que muitas vezes têm os seus valores impostos”, explica a estudiosa.
Preconceito - Um dos representantes da Associação Federativa dos Cultos Afro-brasileiros, Gerson de Souza, que participa de cultos da umbanda em diferentes locais em São Bernardo, conta que convive com o preconceito por ser umbandista desde criança. Filho de uma mãe de santo, Gerson era chamado pelos colegas da escola como “o filho da macumbeira”.
“Fui excluído na escola por ser da umbanda, e alguns dos meus irmãos não souberam trabalhar isso, tanto que acabaram indo para outras religiões e igrejas. Hoje não sou mais apontado na rua, mas o próprio umbandista se poda. Eu não ando com guias penduradas no pescoço ou com roupas que fazem referência a minha religião porque sei que na rua isso gera certo repúdio. Mas ninguém se incomoda com um padre vestido com sua batina andando na rua.”

Ateus afirmam que ideias são desqualificadas
Para quem não segue religião alguma, o preconceito também existe e está presente principalmente em situações sutis. Funcionário público de São Bernardo, Ricardo Queiroz, que se declara ateu, afirma que a intolerância com os ateus está em desqualificar qualquer argumento contrário ao dos religiosos.
“O mais comum é ouvirmos alguém dizer com tom de pena que não sabemos o que estamos fazendo, que um dia serei iluminado e minha vida mudará. Quer dizer, eu respeito o credo de cada um, e não deveria ser tratado como burro porque discordo disso”, afirma.
Hipocrisia - Há 81 anos na umbanda, Alcina Ribeiro da Silva, afirma que recebe em sua casa, onde tem um terreiro, fiéis de todas religiões. “Pastores evangélicos, católicos, eu recebo todos eles aqui de braços abertos. Mas sei que nem todos reconhecem para o mundo que frequentam um centro de umbanda. Tem muita hipocrisia nisso tudo, minha filha.”
O Centro de Referência ao Idoso fica na avenida Redenção, 271, Centro de São Bernardo. O debate é aberto a todos os interessados e começa às 19h.

FONTE: Jornal ABCD Maior  em 27/01/2012

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