Igrejas de diferentes doutrinas convivem lado a lado nos bairros


Se uma guerra religiosa fosse travada entre as igrejas existentes no Parque Jaraguá, certamente, o local seria tomado por um tremendo caos. É que a diversidade religiosa é uma das principais características do bairro.

Por lá é possível encontrar igrejas de diversos nomes e doutrinas, convivendo lado a lado, pacificamente. O segredo, segundo os frequentadores e moradores, é o respeito.

Débora da Silva Barbosa mora há 30 anos na rua Roberto Montenegro Turtelli e diz já ter se acostumado com o ecumenismo do local. Ao lado de sua casa fica a Igreja Pentecostal dos Milagres, criada há poucos meses; em frente, fica a Igreja Católica de São João Batista.

“Mas têm mais duas ali na quadra de cima e outra na quadra da frente”, acrescenta ela, que encara o fato como algo natural. “De vez em quando até frequento uma delas. Não tem crise. Aqui, ninguém briga por isso”, explica.

A cena se repete por quase todas as ruas do bairro. Na avenida Gabriel Rabelo de Andrade, a principal via da região, a cena se repete. Ali, a Capela de Nossa Senhora das Dores, pertencente à Paróquia de Santa Clara de Assis, divide muro com a Igreja Evangélica Aliança de Deus.

Enquanto a unidade da Igreja Católica tem missas aos segundos e quartos domingos do mês, às 10h, e todas as terceiras quartas-feiras do mês, às 20h, a Igreja Evangélica tem cultos todas as quartas, sextas e domingos, às 19h30.
 “De vez em quando acontece de bater os horários, mas é raro. Mas nunca ocorreu nenhum problema. Eles não falam com a gente e a gente não fala com eles. Assim, não tem briga. É cada um na sua”, justifica Carla Maria Carvalho da Silva, membro da Aliança de Deus, que é esposa do pastor e mora nos fundos da igreja.

Na mesma praça

A praça Rui Barbosa, localizada próxima da área comercial mais tradicional da cidade é, além de um marco histórico do município, um tradicional ponto de ecumenismo. Por lá passam, diariamente, centenas de pessoas das mais diversas religiões. E mais: muitas, inclusive, fazem questão de exercer o direito de liberdade de expressão e aproveitam o espaço para divulgar suas crenças.

Não é raro ver pastores de diversas religiões pregando o evangelho em frente à Catedral do Divino Espírito Santo, a primeira Igreja Católica de Bauru, que, inclusive, fica a poucas quadras de uma tradicional Igreja Presbiteriana.

Cena que se configura como uma prova de que o respeito e a convivência pacífica entre religiões são possíveis, mesmo que as crenças sejam diferentes.

“Nunca vi ninguém brigando aqui por isso”, comenta uma vendedora ambulante.

O comentário é confirmado por Maria Luiza Gimenes Fazzo, proprietária da Livraria Católica da Praça. Ela instalou a loja no local há 18 anos, desde então viu crescer a diversidade religiosa dos frequentadores da praça, mas nunca presenciou uma briga por conta deste motivo.

“É supertranquilo. Inclusive aqui, na loja, recebemos clientes de outras religiões. Claro que têm alguns que não aceitam alguns elementos da Igreja Católica, como os santos, e se sentem incomodados. Mas também há evangélicos e espíritas quem sabem que a livraria é Católica e, ainda assim, entram na loja em busca de algum produto sem problemas”, conta.

Maria Luiza, inclusive, não vê problemas no ecumenismo e no diálogo inter-religioso, tanto é que tem amizade com as funcionárias da Livraria Betel, vizinha de sua loja.

“É verdade. Sempre conversamos. Às vezes, precisamos de algo e não hesitamos em recorrer a ela, e vice-versa”, confirma Araceli Martins, funcionária da loja e integrante da Igreja Assembleia de Deus Ministério Ipiranga.

Mesmos princípios

O Centro da cidade é uma das áreas de Bauru que tem como característica marcante a convivência inter-religiosa. Um exemplo disso é esquina onde a quadra 6 e 7 da rua 7 de Setembro se encontram. De um lado, a imponente e tradicional Igreja Santa Terezinha, uma das mais antigas do município. Do outro, o Centro Espírita Amor e Caridade (Ceac), instalado no local há mais de 90 anos e marcado pelo movimento intenso de pessoas.

Apesar de as igrejas não partilharem da mesma doutrina e terem diferenças de crença bastante acentuadas, o local tem uma convivência pacífica e muda. Tanto os espíritas quando os católicos que frequentam os locais não costumam conversar.

“Não temos um diálogo, apenas coexistimos. Não por algum motivo especial, é apenas algo natural”, explica Mauro Pompilho, presidente do Ceac, que ressalta que as principais diferenças religiosas entre os espíritas e os católicos é o fato de eles acreditarem na reencarnação e na comunicação entre planos.

O padre Marcos Pavan, pároco da Igreja Santa Terezinha, confirma a boa convivência. De acordo com ele, os espíritas e os católicos, apesar das divergências doutrinárias, possuem muitos pontos em comum, como a prática da caridade, do perdão, da misericórdia, do amor e da paz.

“Conviver pacificamente não significa crer na doutrina do outro. Significa manter o diálogo no que aproxima e, neste aspecto, todas as religiões têm muito em comum”, ressalta o padre.

“O principal é amar o semelhante como a si mesmo. Essa é a regra universal”, acrescenta Mauro.

FONTE: JC net em 22/04/2012

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