"A intolerância religiosa e a discriminação ainda predominam na Bahia"


A ioalorixá e líder do assentamento Dom Helder Câmara, em Ilhéus, Bernadete Souza, disse nesta sexta-feira (26) pela manhã, durante audiência pública da Comissão de Promoção da Igualdade da Assembléia Legislativa da Bahia, que a intolerância religiosa e a discriminação racial ainda predominam no estado "mais negro do Brasil".
Bernadete acusa, desde o dia 23 de outubro, policiais militares de tê-la jogado em um formigueiro depois que seu orixá foi incorporado durante uma batida policial ocorrida na sede do assentamento. O fato ganhou repercussão estadual. Ela chegou a ser recebida pelo governador Jaques Wagner e, nesta sexta (26), a AL deslocou para Ilhéus os membros da sua Comissão da Igualdade, que estiveram reunidos na Câmara de Vereadores, com representantes da polícia, Ministério Público, terreiros de candomblé e entidades sindicais e de proteção à cultura. A Audiência foi convocada pela vereadora Carmelita Ângela, do PT.
Crianças na mira de fuzis - De acordo com a denúncia da sacerdotisa, no dia 23 de outubro os policiais foram questionados sobre a legalidade de uma operação no local, sem mandado judicial, levando em consideração que o assentamento fica sob a jurisdição do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). "Os policiais reagiram enquadrando homens, mulheres e crianças, sob mira de metralhadoras, pistolas e fuzil", afirma. Na versão da Polícia Militar, a ação ocorreu após receber denúncias de que havia drogas e armas no local, fato que não foi comprovado na operação.
Segundo os assentados, os policiais se sentiram desacatados com a insistência sobre a legalidade da operação e o comandante do grupo teria autorizado a prisão da sacerdotisa Bernadete Souza. “Neste momento o orixá Oxossi incorporou na sacerdotisa que, algemada, foi colocada e mantida num formigueiro onde foi atacada por milhares de formigas provocando graves lesões, enquanto os PMs gritavam que as formigas eram para “afastar satanás”, afirmam as testemunhas do caso.
Demônio sair - "Pareciam umas feras", confirmou a sacerdotisa durante a Audiência Pública. "Voaram sobre mim, me jogaram no formigueiro e disseram que ali era bom para o demônio sair", relatou. Bernadete Souza depois foi levada para a sede da Corpin, onde teria ficado presa e algemada numa cela, ao lado de homens. Presente à audiência, o representante da PM, Coronel Reis, não quis dar maiores detalhes sobre a apuração das denúncias.
"Qualquer declaração a respeito do resultado do relatório, neste momento, seria precoce da minha parte", afirmou. O delegado Carlos Nascimento, da Corpin, se limitou a dizer que o inquérito está sendo apurado, se encontra em fase final de conclusão, e será encaminhado ao Ministério Público.
Líder do Movimento Negro, o produtor cultural Moacyr Pinho, disse que Bernadete irá às últimas instâncias contra as supostas agressões sofridas dos policiais. Reafirmou que não se trata de um jogo entre a polícia e representantes religiosos. "Nosso problema não é com a polícia. Mas com alguns criminosos que podem estar vestindo o seu uniforme", disse.
Provas apagadas - E fez duas denúncias graves. Uma fita com gravações de imagens internas da Corpin, que comprovariam a presença de homens na mesma cela da mãe-de-santo, teria sido "acidentalmente apagada". E mais: testemunhas de Bernadete estariam sendo intimidadas por policiais que estão levantando seus históricos e comportamentos sociais. "De testemunhas estão virando réus. São muitas as pessoas que se dizem pressionadas", afirmou.
Para o deputado estadual e presidente da Comissão de Promoção da Igualdade da AL, Bira Coroa, a ação da polícia que ainda está sob investigação, caracteriza o desrespeito à pratica e ao direito da opção religiosa. "É um crime de intolerância religiosa que não pode ficar impune", definiu. Com cuidado para não generalizar o provável excesso promovido por alguns policiais como marca da corporação militar, Bira Coroa disse que, o que é mesmo preciso, é não perder de vista as responsabilidades no encaminhamento do inquérito.
Para acompanhar toda a história que envolve a mãe-de-santo, os policiais, a acusação de intolerância religiosa e como anda a apuração dos fatos, basta clicar nos links abaixo:

PMs acusados de jogar sacerdotisa em formigueiro "para afastar satanás"

FONTE: Jornal Bahia Online em 09/04/2012

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