Umbanda e candomblé sofrem com intolerância


Por Fellipe Bernardino
No Distrito Federal e Entorno há centenas de terreiros de candomblé e umbanda. Mas poucos são os que nunca passaram por situações de intolerância religiosa. Reclamações e denúncias de perseguição às religiões de origem africana no Distrito Federal não são recentes. Em 2006, mesmo ano da inauguração da praça dos orixás, conhecida como prainha, às margens do lago Paranoá, o local, que serve para oferendas, cerimônias e festas dos adeptos do candomblé e umbanda, foi depredado por vândalos. Mas só depois de três anos a praça passou por reforma e foi novamente entregue à população. Hoje, apesar de a polícia estar constantemente no local para evitar ataques, há pichações em imagens de orixás.
Na Região Administrativa de Recanto das Emas, a casa de umbanda de pai Valdir passa por constantes constrangimentos causados por vizinhos. Já foram várias ocorrências policiais registradas contra acusados de ataques de intolerância religiosa. No ano passado, uma igreja evangélica da região realizou culto na rua em frente ao terreiro enquanto acontecia festa para Ogum. Passageiros de carros estacionados nas proximidades eram abordados para que desistissem de ir à festa. Frequentadores afirmam que, durante as cerimônias, pedras são atiradas no terreiro.
Segundo Ribamar de Oxóssi, presidente da Associação das religiões afro-brasileiras de Brasília, há descaso do Governo do Distrito Federal (GDF) com religiões afro-brasileiras. Ele reclama da ação da Agência de Fiscalização do Distrito Federal (Agefis), que em fevereiro deste ano fechou dez terreiros em Sobradinho e Planaltina com argumento de que as casas precisavam de autorização para atividades econômicas. Ribamar de Oxóssi afirma que artigos vendidos não são o foco dos terreiros, mas a religião. “Igrejas católicas e evangélicas também vendem produtos e não passam por isso”, diz.
Seguidores também reclamam de intolerância em situações cotidianas. Segundo o babalorixá Haroldo Farias, conhecido como Haroldo de Xangô, filho de santo de Ribamar de Oxóssi, nos ambientes de trabalho adeptos de religiões afro-brasileiras são sempre minoria e, por isso, passam por situações constrangedoras. “Muitas vezes, são obrigados a disfarçar sua religiosidade”. Rafael Werneck, iniciado no candomblé em 2008, conta que frequentemente precisa explicar que sua religião não se trata de magia negra.
Farias afirma que políticos procuram votos dos adeptos das religiões de origem africana, mas não praticam projetos efetivos para minimizar a intolerância religiosa em relação a elas.  Ele reclama que políticos apoiadores de religiões de matriz africana não são, de fato, seguidores. É por esse motivo que a yalorixá Maria do Rosário, que foi candidata a deputada distrital pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) em 2010, pretende mudar a cultura de não se mobilizar por candidaturas que ela diz existir entre seguidores de candomblé e umbanda. Mas ela condena candidaturas de lideranças religiosas. “É errado alguém se candidatar como pai de santo, pastor ou padre Fulano de Tal. O que está sendo candidato é a religião, não a pessoa”, alega. 

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