Juazeiro exige liberdade religiosa

Integrantes de religiões de matriz africana pedem liberdade de culto nas ruas deste município, considerado uma referência na religiosidade em todo Brasil. Com mensagens de paz e pedindo a tolerância entre as religiões, cerca de duas mil pessoas saíram às ruas de Juazeiro do Norte, em cortejo durante a V Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa.

Na terra eminentemente marcada pela religiosidade popular, os representantes dos centros de umbanda e candomblé da região não se intimidam e buscam romper das barreiras do preconceito. A caminhada, ocorrida recentemente, reuniu o maior número de integrantes de cultos afro. O cortejo teve como no carro abre-alas a representação de oxalá.
Com grupos de cidades do Crato, Juazeiro e Missão Velha, os participantes da caminhada saíram da praça da prefeitura e seguiram pela principal rua do comércio, a São Pedro, onde centenas de pessoas saíram para as calçadas das lojas para ver os integrantes vestidos com trajes característicos da umbanda e candomblé, em sua maioria.
O cortejo contou com mulheres vestidas de saias rodadas, levando potes com flores brancas. O som dos tambores e músicas dos rituais da umbanda chamavam a atenção do público. Os organizadores destacavam que a intenção não era converter pessoas à umbanda, mas ter a liberdade de praticar o culto sem o preconceito ainda existente, além de convidar a população a fazer parte da caminhada.
 

Garantia
No final do cortejo, na praça Padre Cícero, discursos pela garantia constitucional de prática do culto foram enfatizadas. Não apenas integrantes de centros do Cariri, mas de cidades como Garanhuns, em Pernambuco, a exemplo do pai de santo Francisco de Gina, participaram do evento, desde a primeira iniciativa. Segundo ele, em seu município é feita a lavagem da calçada da igreja. "É muito bom que as pessoas façam essa caminhada e vivam a experiência. Só assim, acaba a discriminação que existe", afirma ele, ao acrescentar que todas as religiões merecem o respeito.
A luta pelo reconhecimento das religiões afro brasileiras vem se ampliando com a integração dos representantes do culto no Cariri. Somente a cidade de Juazeiro do Norte, na região, congrega cerca de 200 terreiros e grandes centros de umbanda. No cortejo estavam representantes de 28 barracões de umbanda e pelo menos nove de candomblé.
As mães e pais da santo, representantes dos terreiros da periferia da cidade, dizem que apesar das garantias constitucionais de liberdade de culto, ainda estão sofrendo preconceito, além de verem crianças discriminadas em escolas, por conta da religião da família.
Para Francisco, a luta é muito grande e sofrida em relação ao preconceito, mas admite que tem sido menos rígido em relação a anos anteriores.
 

Importância
Uma das coordenadoras do movimento, a mãe de santo do terreiro Ilê Axé Omindandereci Mutalegi, Maria Isabel Galdino, destacou a importância da participação e disse que a caminhada representou mais uma vitória. Com o nome de batismo na umbanda YaOmimOfadogi, Erlânia Batista Galdino, está também na coordenação do movimento. Cresceu vivenciando os rituais que vem desde a sua avó. Ela disse que infelizmente a discriminação ainda existe e está basicamente da mesma forma. "A diferença é que barracões de umbanda e candomblé, estão se unindo para conhecer os seus direitos", afirma.
Para ela, existem atualmente pequenas casas em vários bairros de Juazeiro do Norte, e ainda não foi realizado um mapeamento completo. Conforme o levantamento realizado pelo grupo, a maioria de barracões se encontra no bairro Frei Damião, na periferia. No local podem ser comprados terrenos ou casas com menor valor imobiliário para a construção dos templos.
 

Conhecimento
Erlânia diz que há uma grande falta de conhecimento em relação ao candomblé, e muitas pessoas até chegam a tratar mal quem participa dos cultos. O problema, segundo ela, chega às escolas. Representante do movimento negro na região, Diego César dos Santos afirma que Juazeiro do Norte tem uma grande diversidade religiosa africana. Desde jurema, umbanda e candomblé, essas representações estão presentes na região há muitos anos. A possibilidade, conforme ele, de trazer esses terreiros, fazendo intervenção na rua São Pedro, com sua liturgia, é importante para chamar a atenção da sociedade.
Ele disse que há casos em que crianças são vítimas de chacotas nas escolas e algumas desistem de estudar. Diego cita o caso de uma criança que deixou de estudar, aos 8 anos, porque não aguentava mais ser chamado de filho da macumbeira. Há também casos de demissão de pessoas quando são identificadas como integrantes dos ritos. (ES)

Mais informações:
Organização não governamental Ilê Axé OmindandereciMutalegi
Rua Capitão Coimbra, 1094
Bairro João Cabral
Telefone: (88) 3571.3947

Fonte: Diário do Nordeste em 10/02/2014
   
Cariri

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